O FutsalPortugal encerra hoje a sua cobertura à Taça de Portugal, na nossa deslocação ao pavilhão encontrámos Tiago Barros, um dos técnicos que escreve regularmente artigos de opinião no nosso espaço conversas de futsal. Pedimos-lhe para que fizesse um comentário aos aspectos técnicos dos 3 jogos da Final Four e Tiago Barros respondeu afirmativamente, o resultado final é uma análise que nos transporta para dentro da mente de um treinador de Futsal.
Antes de mais, gostaria de dar os parabéns às equipas, que estiveram na final-four, não só pela presença na fase final da taça, mas também pelo espectáculo que proporcionaram ao público presente. Em relação aos adeptos, que só pecou por ser em número escasso, uma palavra de apreço pelo apoio incondicional às suas equipas e um comportamento exemplar.
Uma última palavra para os leitores. Estes comentários reflectem uma forma de ver o jogo muito pessoal, que pode e deve ser discutida.

- UTAD X BRAGA –

Numa análise a algumas das declarações dos treinadores, Fernando Parente atribuíu, ainda que disfarçadamente, a responsabilidade do jogo ao S.C. Braga, tentando de alguma forma, aumentar a pressão, mas salvaguardando sempre a hipótese de a UTAD/Realfut estar na final.Por seu lado, Augusto Assunção, ressalvava que a primeira preocupação do S.C.Braga era vencer a UTAD/Realfut e para isso estava confiante na sua equipa. Não atribuíndo o favoritismo do jogo a nenhuma das equipas. No que diz respeito ao jogo propriamente dito, foi um jogo muito equilibrado e emocionante, com as duas equipas a discutirem o resultado.Numa primeira fase do jogo, o Braga esteve mais confiante e pressionante, defendendo individualmente na linha 1 e dificultando a primeira fase de construção de jogo da UTAD/Realfut. Mas essa pressão não se traduzia em situações de finalização, pois a UTAD/Realfut defendia com as linhas muito próximas, num sistema 2:2, apostando na concentração e nas transições defesa-ataque. Após a marcação dos primeiros golos, a UTAD/Realfut conseguiu ganhar alguma confiança, realizando mais posse de bola, o que implicou uma descida da linha de pressão dos jogadores do Braga. Este foi o mote para, nos últimos 5 minutos da primeira parte, a UTAD/Realfut subir no campo e criar espaços entre-linhas utilizando o seu pivôt como elemento de referência, chegando mesmo ao empate.No início da segunda parte o S.C.Braga voltou com uma forte pressão ao portador da bola na linha 1. A UTAD/Realfut, tinha alguma dificuldade em construir o seu jogo, optando pelas transições defesa-ataque, tentando ganhar as costas do adversário. Uma desconcentração, em mais um lance de bola parada, dá um golo a favor da UTAD/Realfut. A partir desta altura, que coincide com a entrada de Capeta, o Braga consegue além de manter a mesma postura pressionante, criar mais desiquilíbrios, conseguindo mesmo dar a volta ao marcador.Como reacção aos golos sofridos, a UTAD, jogando num sistema 4:0, começa a sair de pressão com uma boa primeira fase de construção do jogo e aproveitando muito bem os espaços entre-linhas e as costas do adversário, ganhando confiança e subindo mesmo as linhas defensivas. Com uma e chegar ao empate.Com o jogo em prolongamento, e estando o S.C.Braga mais adaptado a ritmos elevados, acabou por não conseguir tirar proveito desse factor.A concentração dos jogadores estava a baixar drasticamente e o reflexo disso foi a quantidade de grandes penalidades falhadas por ambas as equipas.A sorte acabou por sorrir ao S.C.Braga. Parabéns!

- SPORTING X BENFICA –

Um jogo que esperava que fosse equilibrado, a desconcentração acabou por ditar um resultado dilatado.
Nos primeiros cinco minuos de jogo o Benfica entrou confiante, com uma boa circulação de bola e movimentações, conseguindo aproveitar muito bem os espaços concedidos e criar situações de finalização. O Sporting, por seu lado, defendia com uma pressão ao portador da bola e apostava nas transições defesa-ataque.
A partir deste período, a concentração dos jogadores do Sporting aumentou, a circulação de bola também e o seu jogo começou a ser mais prático e eficaz.
Até ao final da primeira parte o jogo esteve equilibrado.
Na segunda parte a pressão exercida pela Benfica foi muito forte e bem realizada, com o portador da bola a ter muitas dificuldades em circular a bola e encontrar linhas de passe. Nesta fase, o guarda-redes do Sporting esteve ao seu nível, mostrando grande capacidade de reacção, colocação e agilidade.
No final do jogo, o treinador do Sporting – Paulo Fernandes - opta pela estratégia da superioridade numérica, fazendo entrar o Evandro para o lugar de “Joker”. Apesar da boa circulação de bola, a concentração da equipa do Benfica era grande e acabou por não surtir efeito. O Benfica acabou por ganhar.
Parabéns ao Benfica!

- S.C.BRAGA X BENFICA –

Neste jogo, o Benfica entrou a pressionar a bola na linha defensiva 1 e com um maior domínio do adversário. O Braga, nos primeiros minutos de jogo apresentava alguma desconcentração, talvez fruto do nervosismo, e não conseguia construir o seu jogo, nem circular a bola, logo, não ganhava confiança colectiva.
A partir de certa altura do jogo, que coincidiu, curiosamente, com a entrada da claque do Braga, a circulação de bola começou a ser feita de maneira mais dinâmica, o que motivou os jogadores do Braga, aumentando-lhes a confiança, transportando uma maior agressividade na procura da posse da bola.
Com o adversário a apresentar uma maior posse de bola, o Benfica começou a “controlar” as movimentações e circulação do adversário, aproveitando o momento em que ganhava a posse de bola, para a tirar da zona de pressão, realizando, assim, rápidos contra-ataques, onde consegue mesmo o seu primeiro golo.
O S.C.Braga não desistiu nem da pressão feita ao portador da bola, nem da circulação de bola, tentando aproveitar da melhor maneira os poucos espaços concedidos. Contudo, quando estava em superioridade numérica, os jogadores do Braga não conseguiram ser dinâmicos, nem circular a bola rapidamente, o que obrigaria o adversário a rápidas basculações, criando desiquilíbrios defensivos.
Na segunda parte do jogo, o Benfica teve mais tempo de posse de bola, obrigando o Braga a defender na linha 3, pressionando o jogo interior do adversário, e tentando aproveitar as rápidas transições defesa-ataque. É, curiosamente, numa transição muito bem feita que nasce o golo do Braga.
A partir deste momento a linha defensiva do Benfica subiu ainda mais, com o objectivo de recuperar a bola o mais perto possível da baliza adversária, criando muitas dificuldades de circulação de bola ao Braga. Neste momento, as transições ataque-defesa da equipa do Benfica eram rigorosas e muito agressivas, não dando espaço aos jogadores adversários, para realizarem o primeiro passe.
As diferentes capacidades mentais, acabariam por definir o resultado final. Ainda embora Augusto Assunção tenha realizado o 5x4, não me pareceu, na minha opinião, convincente, pois os jogadores estavam demasiado desconcentrados tacticamente.
O S.C.Braga foi um digno vencido e o Benfica um justo vencedor.

Tiago Barros
Treinador de Futsal in www.futsalportugal.net